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Saltos sem altos

Saltos sem altos

É preciso falar disto - Salvar vidas não é crime

17.06.19, Ana sem saltos

Agora falando a sério, muito a sério.

Por norma utilizo este blogue para descarregar energias, transformar os pequenos acontecimentos da vida em algo memorável, humorável, amorável.

Este tema não é nenhum dos três.

O Miguel é um miúdo que, ao contrário da grande parte de nós - eu incluída assumidamente nesse pacote - decidiu não ficar apenas escandalizado com as tragédias que acontecem no mundo, e pôs mãos à obra.

Neste caso em específico, falamos das crises migratórias que se assistem diariamente aqui na baínha da nossa Europa. 

Há uns anos uma fotografia de uma criança deitada de barriga para baixo no areal de uma praia comoveu o mundo. Eu confesso que andei literalmente a chorar pelos cantos, comovida com a imagem daquele miúdo deitado na exata posição do meu filho mais novo quando adormece. Na altura revoltei-me, indignei-me, ofereci a ajuda que achei que uma tragédias destas merecia. Ainda que as opiniões possam dispersar, ainda que se fale dos eventuais problemas sociais que advêm do choque de culturas, ainda que exista o medo de no meio da ajuda vir também a razão da fuga, caramba, ninguém me tira do coração a dor e pavor que é preciso um pai e uma mãe sentirem para embarcarem num bote rumo ao mar alto com um filho no colo.

Mas, infelizmente, como em tudo na vida, o tempo passa e o peso das coisas também ameniza. A comunicação social entretanto muda o foco e deixa de divulgar estas tragédias, ainda que continuem a acontecer. E nós, esquecemos-nos confortavelmente de saber mais delas.

Este egoísmo em que vivemos, centrados no nosso Iphone, no nosso feed, na nossa vidinha que ai meu deus que é uma merda tão grande, optamos por não pensar demasiado nestas tragédias. Incomoda sermos inertes, incomoda sermos pequenos, incomoda sermos egoístas. 

O Miguel não quis ser nada disso, e embarcou para salvar vidas. Salvou 14.000, provavelmente vivenciou a perda de muitas também. E agora enfrenta um processo que poderá condena-lo a 20 anos de prisão.

Já que pouco fazemos para mudar o mundo, façamos por quem o faz. Ajudar e ser humano não pode ser punido, não pode ser embrulhado nas falácias da lei, capaz de virar tudo às avessas e transformar um Berardo num desgraçado impunível e um Miguel num criminoso. Ser solidário não pode ser considerado crime.

Se não, estamos de facto mesmo muito mal parados.

Vamos ajudar quem ajuda?

 

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