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Saltos sem altos

Saltos sem altos

Isto de escrever

10.07.19, Ana sem saltos

A minha paixão pela escrita começou logo ali nos primórdios do a e i o u. Tive diários desde que me sei gente, onde escrevia coisas tão fabulosas como

"Querido Diário,

Hoje comi chocapic de manhã e era suposto ter sido eu a ficar com a caixa para ler mas a minha mana ficou de novo, fiquei tão zangada."

que foram evoluindo para estados de adolescência e todo o amontoado de dúvidas que é parido nessa fase, 15 toneladas de paixões sempre não correspondidas, que me faziam sentir uma Julieta à procura de um Romeu num livro de banda desenhada. Valha-me Deus, o que sofri por amor, por exemplo, por volta dos 8/10 anos tive uma paixão assolapada pelo Monstro da "Bela e o Monstro", e sabe Deus o que sofri por amar perdidamente aquilo que pura e simplesmente... não existe.

Quem nunca, não é verdade? 

Por isso, escrever foi sempre uma espécie de uma terapia, uma forma de autoconhecimento. As coisas encorporam uma realidade mais robusta e nós uma consciênciamais aguçada delas,  a partir do momento em que as traduzimos em palavras.

E isso é muito bom. E muito mau também.

A questão é que a escrita eterniza-nos, prolonga no tempo uma vivência que, caso contrário, evaporar-se-ia numa gigante ICloud sem espaço. Um sentimento, situação ou emoção passará, entretanto, na máquina liquificadora que é a vida, e as memórias puxadas só por si, trazem-nos apenas fragmentos, muitas vezes ou relativizados, ou exacerbados, ou até inventados, porque entretando ficou tudo misturado nisto que é ir acumulando traumas.

A acrescentar a toda esta incrível mixórdia, a escrita traz-me também segurança e confiança, potencia-me a imaginação, o esforço por recordar o que, às vezes, nem se quer foi vivido. Tipo Neymar com saudades do que não viveu ainda (mais valia teres ficado quieto).

E isso é muito bom. E muito mau também.

Posto isto, e como, aliás, acontece com todas as paixões, a escrita tem de ser alimentada, cuidada, estimulada, mimada. Caso contrário morre porque é muito fácil nós deixamos de saber estar apaixonados pelas nossas paixões. Li algures que não existe qualquer mérito no começo e no termino das coisas (projetos, amores, sonhos). Começar é fácil, começa-se no impulso de uma vontade, de um querer. Acabar também, mesmo que possa doer, fecha-se a porta e acaba-se. O verdadeiro valor das coisas está na sua continuidade. Está no prolongar de um desejo, no empenho que lhe dedicamos para que continue, continue, não morra, não pare, não acabe. É no saber que as coisas podem ficar difíceis, podem estar difíceis, e, ainda assim, permanecermos nelas, ficarmos nelas, perpetuarmos a sua existência em nós. Há coisa mais bonita do que observar um casal de velhinhos que se ama e cuida? Não há e é muito mais gratificante e inspirador do que dois jovens engolidos na sofreguidão faminta do nascimento de uma paixão.

Caramba que bonito, hoje estou que valha-me Deus.

Isto tudo para vos dizer que às vezes vir aqui, ou ao outro blogue, ou ao meu caderno de exercícios, ou às minhas notas no email é difícil. O retorno nem sempre vem, e eu estou longe de ser um Pessoa que escrevia por escrever, talvez precise de um ou dois shots de absinto, who knows?

Mas cá ando.

Por cá ando.

A desafiar-me a mim também, agora até pondero transformar a minha escrita em vídeos, e porque não? Um outro medo que tinha, câmaras, mas isto é só ego, ego e mais ego,  por isso, caguei nos medos, e lá vou reinventando formas de não terminar esta tão grande paixão.

 

alimentar paixoes.png

(por falar em alimentar paixões, então e esta que é tipo vírus e se perpetua em infinitos ao quadrado só porque sim? Eterno começar, este amor de mãe)

 

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