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Saltos sem altos

Saltos sem altos

Ode à saúde

01.07.19, Ana sem saltos

Em arranque de semana, deixai-me relembrar-vos que ter saudinha é coisa muntxo valiosa, é sim senhor, aliás, é a coisa mais valiosa que temos. E que, como em quase tudo na vida - porque somos pouco mais do que eternos descontentes - damos por garantida.

Posto este débito de clarividência, venho por este meio contar-vos que a minha semana arrancou com uma batelada de exames assim à lá revisão da maquinaria, e eu, que tenho fobia profunda a probabilidades, batas brancas e cheiro a éter, sou menina para tremer só com a ideia.

Depois, toda a experiência parece estar programada para ir elevando o nível de ansiedade histérica, pelo menos às mais sensíveis. A pessoa entra, tira senha, mandam esperar na salinha. E a pessoa espera. Chegada a sua vez, vai ao balcão. Entrega papelada dos médicos, valida NIF's e seguros de saúde, e agora, se não se importa, preencha aqui este questionário: antecedentes de cancro, e eu, provinda de uma família que dá sentido à palavra monumental, terei, com certeza, antecedentes de tudo e um par de botas. É ver-me a por "x's" todos tremidos, tentando controlar a ansiedade a galope por mim a cima. Sinto uma vontade desvairada de entrar ecrã da televisão a dentro e apertar o lencinho do pescoço do Goucha.

Agora atravesse, por favor, aquele corredor, e espere naquela salinha, espero sim senhora, até me chamarem pelo nome uns minutos de google depois.

google.jpg

Não querendo entrar em pormenores mas entrando, caguei, digamos que parte de mim foi esmagada de forma cruel para sempre.

rip.jpg

Paz às suas almas, pobres meninas.

 

Ainda por cima por uma velha antipática que só me dizia "está muito tensa" "assim não me deixa fazer o meu trabalho", e eu "vá pó coiso que a coisou", mas tudo para dentro, sempre só a suar do buço. Feito o exame, fico ali a olhar para ela a ver se ela via qualquer coisa, mas ela ignora-me e manda-me embora. Lá vou eu com a esperança de ter logo ali uma ideia de qualquer coisa toda escangalhada com outras milhares de esperanças defuntas em mim. Avanço mais um corredor, curva e contra-curva, subo escadinhas, e sento-me à espera que me chamem de novo.

Google: "Morrer doi?"

Lá me chama, com a Graça de Deus Nosso Senhor. Entramos na salinha para mais uns exames, desta vez já com o médico. Esta enfermeira, mais simpática, diz-me amavelmente para aguardar "que o senhor doutor está só a ver a sua mamografia com a técnica".

Foram minutos transformados em décadas, eu a tentar ouvir o que eles diziam, sem perceber nada, o coração resolve sair-me do torax e desata-me aos estoiros na língua, carga de nervos dos diabos, e uma pessoa com uma carga de nervos apenas coberta com aquelas batas verdes descartáveis é tipo mandarem-nos de cabeça para um pedragulho de humilhação marcarados de noddy.

humilhação.jpg

 

O abençoado médico avança sala a dentro e pergunta-me:

_ Este exame foi só de rotina, certo?

E eu, pronto, já a ver-me condenada a todo um futuro negro e sofrido, a pensar quanto tempo me demoraria o Adónis a chegar ali para me socorrer das lágrimas e pânico, toda cheia de promessas e figas para dentro, lá lhe digo aos solavancos que sim e fecho os olhos com as unhas cravadas nas palmas das mãos.

_ Está tudo ótimo, como seria de esperar na sua idade.

POW

Para além de estar tudo ótimo,

obrigadaSenhorobrigadaSenhorobrigadaSenhorobrigadaSenhorobrigadaSenhor
obrigadaSenhorobrigadaSenhorobrigadaSenhorobrigadaSenhorobrigadaSenhor
obrigadaSenhor

SOU NOVA!

fortnight.gif

 

PS: Brincadeiras à parte, pessoas que me lêem, é favor cuidarem da vossa saúde e invistam na prevenção, façam os exames quando têm de ser feitos, mesmo que sejam esquizofrénicas tipo eu. Até porque a euforia de descobrir que afinal 'TÁ TUDO BEM, TODUMUNDOAQUITÁBEM, compensa os milénios de vida que se percam com ataques de nervos. E, já agora, apreciem a maravilha que é sentirmo-nos bem e termos saúde.

 

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