Os assassinos da leitura
Ora então celebra-se a 23 do presente mês do calendário o Dia Mundial do Livro. Extremamente importante este dia, especialmente para mim.
Estava eu a pensar nisto quando me dou conta, assim de forma estupendamente racional, que já li muito, mas MUITO mais do que leio hoje em dia. Caramba, então afinal o que se passa com uma aspirante a escritora que subitamente deixa de ler?
Sempre adorei ler. Talvez seja um ciclo vicioso de quem gosta de escrever, mas a verdade é que um bom livro é daquelas coisas que me deixa verdadeiramente feliz. Aquela sensação de estar sempre a pensar no livro, desesperada que surja um tempinho para poder voltar a mergulhar lá para dentro, sabem do que falo?
E se dantes devorava livros como quem devora cajus, a verdade é que hoje em dia estou bastante aquém do que gostaria. Achei, por isso, que era bom expor abertamente os assassinos da leitura. Sem medos.
- Filhos
lol. Bom quem me lê às tantas deve achar que eu não gosto de ser mãe, culpo a maternidade de tudo aquilo que não consigo fazer. Não é bem assim, atenção, tenho uma tendência genética para o exagero, deem sempre um ligeiríssimo desconto às coisas que digo. Mas a verdade é que este projeto de vida advindo de uma longa história de amor, ocupa não só tempo mas também,
wait for it
disponibilidade mental. Ora por disponibilidade mental leia-se aquele suspiro curioso da massa cinzenta que - teoricamente - nos ocupa o crânio. Sem tempo e sem massa cinzenta ativa devido ao cansaço da permanente atividade física/emocional/ psicológica - assim mesmo, tudo ao molho e fé em Deus - quando finalmente despejamos a real bunda no sofá a única disponibilidade que sobra é pura e simplesmente para babar. Literalmente, babar. Tipo, não me façam SEQUER mover um olho, pelamordedeus deixem-me aqui morta só um bocadinho.
Uma pessoa não se quer esforçar minimamente, e para que a leitura seja feita de forma prazerosa temos de ter TODOS os sentidos alerta, despertos e curiosos para vivermos e imaginarmos tudo aquilo que as palavras nos contam.
(beicinho, que bonito pá)
Parecendo que não, dá trabalho, e uma pessoa cansada não se quer ter trabalho. Isto leva ao quê? Ao segundo assassino da leitura. Segundo na lista, mas, e sendo totalmente honesta, primeiro em termos de força.
- Ecrãs
Esses filhos da mãe. Como estamos cansados bora ser só e apenas espetador! Carregamos no botão e agora atirem-me informação para cima, pode ser que entretanto adormeça.
Antigamente tínhamos somente a televisão assim como televisão, lembram-se dela? Esperávamos pela hora da série, e lá mamávamos aquilo com 189 minutos de intervalos pelo meio. Já ninguém faz isto. Agora há uma verdadeira eficácia no ato de meter trampa para dentro da mona: já não perdemos tempo a ver o que não queremos. Passamos anúncios para a frente e gravamos apenas o que nos interessa. Só que esta eficácia pode ser perigosa porque acaba por fazer com que acabemos por ingerir muito mais séries/filmes/whatever do que faríamos de tivéssemos de levar com as secas de antigamente.
O verbo esperar já não se conjuga hoje em dia, e não estou certa que isso seja muito bom.
Este específico assassino da leitura não se aplica à minha pessoa que passei de adolescente devoradora de novelas e séries para um verdadeiro jejum televisivo que já conta com quase 10 anos. (Não conta o Panda, ok?)
No meu caso aplica-se o ecrã mais pequenino. Mais concretamente as redes sociais que estão enfiadas dentro do ecrã pequenino. Valha-me Nossa Senhora da Literatura, a quantidade de tempo que perco só a passar o dedinho para ver… nada! Fico com vontade de me levantar e desatar ao estalo a mim mesma. Não sei porque faço isto, juro, mas a verdade é que faço, e muito mais do que queria.
Maneiras que quando não estamos no mood casal que deitou os filhos e agora quer largar prosa noite dentro com vinho e velas, em vez de me deitar a ler um livro, ou então só a dormir, pronto, resolvo tomar a imbecil decisão de ir "só" dar uma espreitadela no facebook e instagram.
A prova disto é que neste fim de semana partimos rumo a Castelo de Vide, um campo daqueles tão verdadeiros que nem rede de telemóvel tem, quanto mais internet.
(quem mora no campo, viaja para o campo. <3)
Fomos nós e respetiva ninhada de terroristas, e casal cunhados, com respetiva prole de três crianças. E apesar das 5 crianças, das refeições, das conversas à lareira, dos passeios e mergulhos no rio, saltos à fogueira e coelhinhos de chocolate escondidos, aqui a je mandou-se a um livro que já há muito tempo queria reler com a devida atenção, COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ. Viram isto? TIVE TEMPO!
E esta, heim? Facadas no peito, sou uma besta.
Acabei de assassinar assim à bruta o primeiro assassino que mencionei. Não são as crianças que me impedem de ler. É preguiça mental que é viciante e o tempo que aplico a olhar para a porcaria do telemóvel.
Posto isto, impus a mim mesma um controlo neste vício. Ainda para mais agora recebo alertas que me avisam o tempo que passei em cada rede. (medo.)
Voltem livros, vinde à mamã que vos ama de paixão e promete dar-vos toda atenção que merecem. Preciso de vós, estou a ficar vazia, por isso vinde e encham-me a alma de sabedoria e imaginação!
Estou a reler este:
(que violência de escrita tremenda, chego a ficar enjoada)
E vocês?